8.11.10

Cair em si


Mas hoje eu vi um pássaro. Colorido pássaro. E hoje eu retirei com força o meu pesar. Dancei ao som de seus batuques e com os pés descalços encaixei minha alma. A força do meu espírito se mostrou presente. Um ímpeto pulsar me sobressaltou, quando me peguei diante da amplitude de possibilidades a minha frente. Um choro que vem me lembrar: existe vida.

Retirando o véu branco. E as gaivotas cantam serenas no sol manhoso da manhã. Os raios luminosos vibram suaves nas águas cor-de-mar. As ondas renascem suaves. E a vida em si, vai retirando os corpos, os lixos e o pesar. Hoje o dia amanhece suave na praia. E eu me sento ali, tão inteira a observar o horizonte. Deixando a vida ser, na sua grandiosidade. Em sua benevolência de me permitir tanta evolução. E mesmo no meio do turbilhão, quantos presentes recebi. Assim, como se fosse 2 de fevereiro!

Iemanjá vem, e repousa seu manto em mim. Com toda a força de guerreira. Com o semblante sereno de uma onda de rio. Meu coração cresce forte. Tão forte que explode lágrimas. Cada gota de água que sai de meus olhos carrega o amor por uma pessoa. Explode em mim GRATIDÃO. Sendo assim, sei que a vida está de volta.


"Ás vezes parece um tambor. Mas não é tambor nem nada. É o coração!" (djavan)

20.10.10

Dias de graça

Dias de graça. Dias de encontrar a alma. Buscá-la com os pés na areia, numa brincadeira de roda, numa gargalhada livre. Eu me encontro diante do mar. Livre e tão leve. É o vento que vem me buscar para eu dançar. Saio lá fora e encontro o cheiro de árvore de verão. O cheiro de brisa de férias. É o meu rosto corado e tão feliz.

(...)

Um dia de verão é tudo que se precisa para adubar a terra. Retirando as ervas daninhas, podando feliz e com a suavidade da água, faz-se florescer. Um rosto que brilha os olhos, uma vida que anda ampla, um sorriso que tem ar de criança. Hoje eu posso ser tudo isto, que meu sonho insiste em se tornar presente. Hologramas. Caçando borboletas. Caminho livre de vestido florido. Meus pés tocam as minhas reais raízes, aéreas. Eu viro uma estrela e faço uma invertida. Num dia de ioga. Numa vida mais bela. Você vê? É a luz cheia que tem cheiro de jasmim-manga. É a tarde que invade com uma espuma branca da alma do mar.

3.9.10

Wild Wind

Às vezes insiste-se em segurar o vento entre as mãos. Agarramos com tanta força que a única coisa que se faz é perder a força, completamente. E fica-se assim, à toa, a espera do fim, fim que nunca chega. A espera angustiante de qualquer sinal, qualquer estrela que brilhe no céu para ouvir que está tudo bem.

Como num vulcão adormecido, a força é tão imensa que mesmo sem expressar rasga a pele, saindo pelos poros e tingindo das cores mais belas, as que explodem em minha mente. O que deveria fazer se não aceitar o fim. São tantos finais que já deveria ter se acostumado a dizer até mais. Até logo, breve, num novo acaso. É a vida que age e nem sequer pede licença. Saberia ela o que se passa num coração que vive crescendo e explodindo? Há tanto amor que por ironia tem-se privado disto. Como se ele só reconhecesse as suas digitais, o seu zunido, o seu calor.

E o que pulsa já nem é mais a verdade, neste instante. A verdade do que foi, porque assim tem se feito convencer, de que isto não serve mais. Afinal, para que serve um sentimento se não pode ser dito, nem expressado? Entope tudo. Entope até pensamentos, ao fim de se embolar, feito luzinhas de Natal. Ao que amo desfazer nós, já não tem a mim a paciência. Tanto tempo já. E a vida insiste em me fazer surpresas, em me despertar brisas e lua cheia.

Tudo muito injusto, quando só se queria viver o que se sente. E nada a mais.

17.8.10

A hora do cansaço

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

1.8.10

Em algum lugar ainda amor








A espera de ser reconhecido mais uma vez. Chegue um pouco mais perto, para que minha respiração encontre repouso nos seus sentidos. Adormeça e sinta o gosto de saber mais uma vez amor. No que corrói a indelicadeza, no que destrói o orgulho e o medo de não ser mais amado.

Uma vez reconhecido, permita a brisa passar. Levando tudo quanto dureza de ego. Apenas aclamando no que se chama aconchego por ser quem é. Por ter sido quem pudemos ser. Deixando tudo o que já se foi, ir. Apenas ir. Como a onda que toca macio a pele. Vem e volta para o mar. Como o beijo recebido. Vem e volta para si. Um corpo que tem alma. Vida a espera do novo. Na permissão do agora. Podemos ser quem quisermos. A escolha provém de nossa decisão. A inteligência opta pelo melhor, sempre. Na confiança nata de acertar a todo instante. É só o que eu posso ser, agora.

Mais uma vez em foco, os pesos dos dias sem fim derretem-se. Esparrama o corpo na cama para sentir, só mais uma vez. O que não tem ponto final, porque é cíclico. O que não cansa de seguir seu rumo. No que se firma sem esforço. Presença. Simplesmente é. Porque é real. E a verdade não se reprime por vaidade. Ela explode silenciosamente, e ultrapassa muros, pois não tem barreira. Permeia como água na cachoeira. Gela a ilusão e qualquer tipo de descontentamento. Coloca a si no lugar. O seu.

Passeia pelo mundo e volta, cheia de vida, cheia de si. Tão cheia que transborda. Transgride em si. Uma nova pessoa, um novo amanhã, um novo amor. Amor sempre mesmo. Mas que nunca permanece igual. Compreensão de que só o amor cura e fortalece bases. Amor que responde dúvidas. Amor que aquieta a mente. Amor que repousa o corpo cansado, para restabelecer vitalidade. Amor que não se cansa de ser quem é. Amor que é dono da verdade. Senhor da razão. Amor que com ele ninguém pode. Amor que tem poder e faz milagres. Tantos, que até perdemos de vista. Basta repousar os olhos sobre si, que ele estará ali, presente. Em algum lugar, ainda amor.


15.7.10

Que pode ser tão raro, que não pode ser incluso na lista dos “Desapegos”?

É o fluxo da vida e nada posso fazer para impedi-lo ou retardá-lo.
Permito-me passar o tempo necessário de “luto” pelos finais e mudanças que ocorrem.
É preciso sentir a dor do fim para iniciar em outro caminho.
Tenho raízes aéreas e entendo que nenhuma pessoa pertence a outra,
e ninguém pertence há somente um lugar no mundo.
Considero-me uma cidadã do mundo, com todo o direito de ir e vir, de seguir em frente e buscar e de voltar atrás quando parece-me apropriado.
Lembro-me com nostalgia de despedidas e finais, mas não me arrependo das escolhas que fiz, nem mesmo das erradas.
Olho para o longo caminho que ainda vou percorrer e sinto um misto de excitação e tranqüilidade.
As oportunidades se apresentam a nós quando estamos prontos para reconhecê-las.

(Marla de Queiroz)

14.7.10

Uma certa saudade burra

Imaterialidade. Máquina de fumaça. Esfarela feito bolacha waffer. Desintegra como esqueleto de desenho. Chacoalhou para sumir na tela mágica. Projeção sem foco. Something is missing. O dia que nunca chega. Existe sem existir de fato. Ausência. Conclui-se então que toda saudade é burra, irreal e mentirosa.

10.6.10

A magia da Luz

Tudo quanto fosse obscuro permaneceria em repouso, adormecido como corpos sem vida. Receberiam a frieza das noites gélidas de outono. Tudo quanto enxergamos vida seria inanimado, inconsciente, incapaz de permanecer vivo. Uma fresta que se abre, banha toda superfície e atravessa limites no intuito de aquecer moléculas e renascer em vida. Cora tudo quanto existe, deixando a palidez para o inexistente, para o feto enquanto espera o momento de se mostrar real. Apenas uma passagem... e ela se materializa. A luz em sua propriedade única e indispensável. Luz, que em nós se personifica e que de nós se materializa. Luz que revela e que nada permanece escondido. Luz que evidencia e exalta a beleza. Luz que torna mais confortável e aconchegante nossas sombras. Luz que só se mostra bela pelos intervalos de sua existência. Intermitentemente, como o pulsar do coração. Em fragmentos de sua ausência encontra-se o potencial que a faz ser tão valorizada. Justamente o que nos faz sentir tão próximos a ela. Entre luzes e sombras manifestamos quem de fato somos. E nossa própria criação evidencia-se através dela. Cidades que se constroem ao longe e brilham feito estrelas no céu. Cidades que adentram nossa existência valendo-se dos lugares não habitados, para simplesmente acender uma chama. São as luzes de nossa consciência que se apossam de cada canto obscuro para trazer a tona toda a beleza que existe nestes lugares. Interiorizando ambientes, como sendo um palco de luz dramática e exteriorizando espaços, como luz do meio dia, a vida se torna clara e por hora ofuscada, mas nunca escura o bastante para se tornar o nada.

São séculos de existência para a compreensão daquela que nos mantém vivos. A um passo de torná-la cada vez mais valorizada. Temos sua existência em nossas mãos. Construindo espaços, que por e através dela, evidenciamos a verdade que precisa ser lembrada. A luz direciona o caminho, e torna belas as sombras de cada lugar. Mágica luz que interfere nos destinos, de ida e volta. Mágica que reacende a chama de nossa própria existência.



9.6.10

Anjo Verde









Um anjo verde, que tinha asas mas que prefiriu cortá-las para repousar em meus ombros.

Um anjo leve, que veio de longe e chegou cansada só para encontrar abrigo.

Um anjo de olhar carente que só se acalmava quando recebia amor.

E que sem eu pedir, me acarinhava com o seu barulhinho macio.

Quem me ensinou a nunca recusar dar amor.

Quem me escolheu para ser seu esconderijo predileto.

Sua dor latejava em silêncio, sem eu perceber que a única coisa que queria era sempre um pouco mais de conforto.

Meu presentinho , veio voando pela janela carregada de amor. E permitiu que ele ficasse inteiro comigo, você me entregou...até se esvaziar e voltar para sua verdadeira casa.

Quem me alegrou com as sapequices.

Quem me fez ver ...que Deus mora nos pequenos gestos. E com eles banha nossa alma de luz e amor.

Amor para sempre.

31.5.10

Permita que o Sol brilhe na sua casa
e que a limpeza da chuva
inspire seu coração.
O vento lhe assopre aos ouvidos
e as estrelas o iluminem a cada dia.
Como na Natureza
Deus criou no homem
tudo aquilo de que necessita.
Você tem em si
todo o mecanismo de que necessita
para ser um ser perfeito
como a Criação lhe planejou.

Mestre Confúcio


4.5.10

A não-história


















Eu queria calar em mim o beijo não dado, o abraço cancelado e o encontro desencontrado.

Eu queria repousar em mim os verdes seus que não vi, a fusão de nós que se encolheu, o suspiro do que só intuiu.
Eu queria pintar com tinta acrílica o resto dos dias que não viveram. Desfazer o desbotado.
Eu queria desconstruir o que foi construido. Reler o que me foi lido. Desencantar o que desencantou.
Eu queria desobstruir o caminho. Desenrolar o que não foi vivido. Por estar a espera e ter repousado para sempre.
Eu queria desassossegar o que se assentou. E assentar o desassossego. Tudo ficaria no seu devido lugar.
Eu queria reeditar a história. O começo não teria mais fim.
Eu queria replanejar o ponto final. Já que ele se personificou em vírgula, reticência, interrogação e exclamação. Tantas vezes já.
Eu queria dar blackout no teatro do meu coração.
Eu queria jogar tinta branca nas paredes do que pulsa. Pulsa sem parar. Pulsa sem me dar descanso. Pulsa e eu nem sei mais por quê.
Eu queria poder escrever outra história. A não-história de nós dois. Neste breve intervalo de tempo. Breve e eu nem sei mais como se mede.
Neste lugar que se escondeu a preciosidade de um encontro.

12.4.10

The Scientist



Come up to meet you, tell you I'm sorry

You don't know how lovely you are

I had to find you, tell you I need you

And tell you I set you apart

Tell me your secrets, And ask me your questions

Oh let's go back to the start

Running in circles, Coming in tails

Heads on a science apart

Nobody said it was easy

It's such a shame for us to part

Nobody said it was easy

No one ever said it would be this hard

Oh take me back to the start

I was just guessing at numbers and figures

Pulling the puzzles apart

Questions of science, science and progress

Don't speak as loud as my heart

And tell me you love me, Come back and haunt me

Oh when I rush to the start

Running in circles, Chasing tails

Coming back as we are

(cold play)

31.3.10

Quando um amor













leloveimage.blogspot.com

Quando um amor acaba fica a incerteza do que poderia ter sido.
Quando um amor acaba ficam as páginas em branco.
Fica uma saudade do que não foi. Da idéia croquizada do que poderia ser.
Como uma bola maleável aos poucos o coração vai voltando ao seu estado natural.
Natural por ser sozinho.
Natural por não ter mais o encontro com o outro.
Natural por não ter mais medo e nenhum tipo de apego.
Natural por ser vermelho.
Quando um amor acaba fica a certeza de que nunca mais vai acabar. Nunca mais porque é cíclico. Este meu amor. E a parte que era só sua fundiu-se na parte que era só minha. E agora ficou uno.
Carimbado e selado para todo o sempre.
Quando um amor acaba fica a clareza de que tipo de amor se foi. Eu hoje escolho que esta história não acaba mais. Não mais por ter sido puro. O amor como água cristalina. Nem falo do dono do amor. Falo do amor em si. Este nosso. Sim, puro e cristalino.
Quando um amor acaba a vontade de correr de volta para o seu abraço é tão viva que eu permaneço parada. Estática na firmeza da intuição.
Quando um amor acaba eu me pergunto por que não pode ser para sempre. Sempre assim. Sempre intenso. Sempre vivo. Sempre certo de que é para sempre.
Quando um amor acaba eu planto os pés no chão para vestir a adulta. E então não posso deixar a emoção me descabelar.
Quando um amor acaba costumo olhar o horizonte. Na certeza de que tudo foi o que tinha que ser. Na certeza de ter vivido o que eu quis e o melhor que pude.
Quando um amor acaba a minha força quer dançar, dançar e dançar.
Quando um amor acaba eu entro no meu casulo.
Quando um amor acaba, ás vezes eu culpo Deus, ás vezes culpo o homem no que ele representa e ás vezes culpo eu sendo o que sou.
Quando um amor acaba eu queria ser costureira, restauradora e marceneira.
Quando um amor acaba meus dias ficam...acho que não ficam.
Quando um amor acaba ele já se foi.
Quando um amor acaba eu sempre espero que ele volte.
Quando um amor acaba eu amo e agradeço tudo o que passou.
Mas quando o nosso amor acaba você continua vivo dentro de mim.
E eu te amo ainda mais.
Em silêncio. Com amor e respeito.






19.3.10

Amanhã é outono
















olivestar.deviantart.com

Se as folhas secarem
por que não as recolhe
Deixa o vaso limpo
mesmo que não tenha cor
Aduba a terra
Molhe-a
Prepare-se para a abundância
Permita o vazio se manifestar
Colocando cada coisa
em seu devido lugar
Assenta
Abaixe a poeira
Deixa a brisa refrescar
Permita que Deus coloque
Vossas mãos em seu peito
Deixe-se acalmar
O sol está querendo amanhecer
Um novo momento para você
De amor e muitos sorrisos
Deus está do seu lado
Todo dia ele suspira palavras
certeiras em seu coração
Permita-se ouvir
Deus só quer te encaminhar
para o seu melhor lugar!
Confie!
Os anjos estão aqui
Todos os dias.


25.2.10

O Silêncio das Estrelas









Solidão, o silêncio das estrelas, a ilusão
Eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos
Como um deus e amanheço mortal

E assim, repetindo os mesmos erros, dói em mim
Ver que toda essa procura não tem fim
E o que é que eu procuro afinal?

Um sinal, uma porta pro infinito, o irreal
O que não pode ser dito, afinal
Ser um homem em busca de mais, de mais...
Afinal, como estrelas que brilham em paz, em paz...

(lenine)

3.2.10

2 de Fevereiro



"(...)

Seja o amor! Seja o amor em tudo aquilo que pensar, porque os seus pensamentos expressam a essência de quem você é. Seja o amor todas as vezes que abrir a boca, para que suas palavras expressem e construam o amor! Seja o amor em tudo aquilo que fizer, porque assim estará manifestando o que há de melhor em sua natureza. Seja o amor para aqueles que se sentem rejeitados e abandonados. Seja o amor em meio à raiva e ao ódio. Seja o amor quando tudo o que você tentou parecer falhar. Seja o amor porque, em qualquer circunstância, o amor é a única coisa da qual todos os seres viventes precisam. Em outras palavras, eles precisam de você!
Seja o amor! Seja o amor quando achar que cometeu um erro que não irá ser perdoado. Seja o amor quando aqueles em quem confiou parecerem estar abandonando você. Seja o amor quando o mundo não lhe der o crédito que você acredita merecer. Seja o amor porque, quando tudo o mais falhar, o poder do amor erguerá você.
Seja o amor que Deus criou você para ser, conhecer, experimentar e expressar."

(iyanla vanzant)

27.1.10

Culpa do seu não-abraço

(...)
Fui dormir entorpecida de amor, e acordei como uma simples mortal. Sentindo tudo até o que não precisaria. Não chega a ser uma dor-dor. É tão somente uma malemolência. É sentir os dias caminhando a passos de formiga. É querer pintar quantas telas for preciso para eu poder apreciar a obra final. Sem entender que elas têm seu próprio ritmo. Não é possível agir tão grosseiramente. Como quem quer finalizar tudo sem ao menos sentir o que realmente se quer. Carimbar a assinatura pra poder se assossegar. Numa rede de frente ao mar. Sem saber que os dias percorrem ao longo de seu passo. Tão somente o que se faz. Um desassossego interminável. Não vi por onde ele entrou. Talvez eu tenha deixado a janela aberta pro cheiro de tinta esvair-se. Pegou carona com o ar nonsense do dia e repousou em mim. Sem ao menos me pedir licença. Repousou tão aconhegado que eu tive de entregar meu corpo à cama. Tão pesado que me senti embriagada. Largada à esmo, e ninguém me vê e ninguém vem me salvar. Um desassossego que não acha seu lugar. Anda por todos os meios e salpica nada. Nada salpica. Nem o doce e nem o amargo. Se ao menos estes chocolates não fossem de verdade. Se ao menos eu pudesse beber esta tinta cor-de-delícia! Se ao menos estes papéis fossem comestíveis. É certo que eu teria me saciado. A ponto de minha digestão ter se resolvido. A ponto de não precisar mais, de não querer mais. E por querer e precisar é que quero e preciso cada vez mais. Como a vida lá fora, como os dias mais reluzentes, como a obra mais redonda. Como os pés na areia. Como o sopro na vela do bolo de aniversário. Como a noite de amor que não tem fim. Como se fosse o escudo que me protege. A minha capa de chuva. O meu guarda-sol. É como estar dentro da carruagem. É como dormir na minha cama. É como deitar na grama.
(...)


25.1.10

Perdoando Deus

“(...) Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Por que eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. (...) É porque sempre tento chegar ao meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. (...) E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. (...) Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. (...) Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho da minha natureza? (...) Eu que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu.”

(clarice lispector)

21.1.10

Balé das ondas



Ondas que vem pintando um caminho na imensidão...
Azul e branco aos olhos de quem vê...
Um infinito de possibilidades aos olhos de quem sente...
Constante movimento que nasce no horizonte cresce, explode, mas nunca morre...
Renova-se e modifica-se para renascer, crescer e explodir de novo trazendo sempre um novo mistério...
Dança da renovação...Encanto...Poder...
Elemento água, elemento ar, Elemento terra e o elemento fogo do grande sol central a iluminar...
Perfeita simetria, vida em movimento, suspiro da mãe terra...Natureza que nos compõe...
Ondas que vem e que vão...
Explosão branca na imensidão azul...
Magia de Paz, de cores e de sons...Que refletem o Deus ativo...
Que reflete a mim mesmo...
Mas não vejo nada...Apenas sinto...
E por isso eu sei que estou enxergando...Com os olhos da alma...
Com os olhos de Deus...
Ondas que vem e que vão...
Como a vida, um fluxo perfeito...
Um mistério que não precisa ser revelado...
Apenas vivenciado...Sentido e...Amado.

(flávio micchi)

Hoje é dia de amor



Hoje é dia de amor
de esquecer do dia
das coisas coisas
que todo mundo faz
Tudo no mesmo passo
sem sentido.
O dia de amor
é muito mais
Maior do que tudo
Maior do que nada
É o dia bom
de se fazer somente
aquilo que se gosta
Eu com você
fazendo e refazendo
amor.
sem hora sem pressa
sem dia
Porque hoje é apenas
o dia de amor!




20.1.10

Minha lógica



Eu dou um salto pra cima, e a linha se desenrola. Eu viro uma pirueta, e o cãozinho puxa o rolo de papel higiênico pela casa. Eu faço um balancé , e logo depois um chassé. Eu desenho com esquadro, e admiro a Zaha Haddid. Eu faço ioga, e dança contemporânea. Eu tenho postura de bailarina, e desfilo na avenida. Eu olho para cima, e caminho para frente. Eu coloco o ponto final, e gosto da reticência. Eu falo que não te quero, e amo você logo em seguida.