4.5.10

A não-história


















Eu queria calar em mim o beijo não dado, o abraço cancelado e o encontro desencontrado.

Eu queria repousar em mim os verdes seus que não vi, a fusão de nós que se encolheu, o suspiro do que só intuiu.
Eu queria pintar com tinta acrílica o resto dos dias que não viveram. Desfazer o desbotado.
Eu queria desconstruir o que foi construido. Reler o que me foi lido. Desencantar o que desencantou.
Eu queria desobstruir o caminho. Desenrolar o que não foi vivido. Por estar a espera e ter repousado para sempre.
Eu queria desassossegar o que se assentou. E assentar o desassossego. Tudo ficaria no seu devido lugar.
Eu queria reeditar a história. O começo não teria mais fim.
Eu queria replanejar o ponto final. Já que ele se personificou em vírgula, reticência, interrogação e exclamação. Tantas vezes já.
Eu queria dar blackout no teatro do meu coração.
Eu queria jogar tinta branca nas paredes do que pulsa. Pulsa sem parar. Pulsa sem me dar descanso. Pulsa e eu nem sei mais por quê.
Eu queria poder escrever outra história. A não-história de nós dois. Neste breve intervalo de tempo. Breve e eu nem sei mais como se mede.
Neste lugar que se escondeu a preciosidade de um encontro.