15.9.09

Rua da Consolação

Caminhando pela calçada, assim, como se estivesse sobre um asteróide.
E a única pessoa a existir era ... humm, não havia pessoa alguma!
Eu sei bem, eu vi. Tão nítido quanto a melodia que se silenciou.
Ele tinha um carneiro! Eu bem vi, com aquelas patas mirradas e tufos e mais tufos de pêlos sobre seu corpinho redondo. Um pêlo meio espigado é bem verdade, mas ainda assim era fofinho. E branco. Ele andava na coleira. Gente, domesticaram o carneiro! Coisa de pessoa grande.
Meu Deus! E ele daria conta de tantos baobás nenéns que existem aqui? Não sei, não fiquei a tempo de ver. Foi o tempo suficiente de ver um único baobazinho ser arrancado. No mesmo instante em que juntos observamos o pôr-do-sol a quase exatas 22:47 hs. Coisa de pessoa grande.
Aquele vento frio pixado de fumaça cinza acariciou-me como uma brisa:
"- As estrelas são todas iluminadas...Será que elas brilham para que cada um possa um dia encontrar a sua? "
Eu pude ouvir a sua voz mesmo com os vidros fechados e as portas trancadas. Entupida naquele inferninho.
Ele era igualzinho a sua imagem personificada. Um leve curvado, a boca era quase um ponto, um ponto final. Era tão sábio no meio daquela multidão! Sim, havia milhares de pessoas. Tudo louco. A gritar frustrações. A correr da sua sombra. Um atropelamento de pessoas grandes. Tudo muito confuso. Tudo muito egóico.
Foi nítida a dualidade. Como o espinho e a rosa. E eu também não sei por que elas perdem tanto tempo produzindo espinhos inúteis.
E o que foram aquelas galochas?! Tão a par do tempo. Tão despojadas! A calça tinha ranhuras. Eram pinceladas. Eu bem sei. Seu tronco reto como num retângulo se aconchegava numa blusa preta.
Ao que num impulso de seguir, em cada luz que pisca, na cidade que se constrói lá longe, numa linha tão cheia de recortes no horizonte, a música de novo tocou em mim:
"- Quando olhares o céu de noite, eu estarei habitando uma delas, e de lá estarei rindo; então será, para ti como se todas as estrelas rissem! Desta forma, tu, e somente tu, terás estrelas que sabem rir!"
Eu sorri. E segui em frente. Banhada por aquele encontro.


...e eu me perdi no país das lágrimas.